Nas últimas eleições antes da proibição do financiamento
empresarial de campanhas, 92 deputados e senadores receberam doações de pessoas
físicas ou jurídicas que foram contratadas pelos mesmos parlamentares depois
que eles foram eleitos. De acordo com levantamento da organização não
governamental Dados.org, disponível até terça-feira (24) na plataforma Datascópio,
os três congressistas que pagaram os maiores valores a doadores de campanha
tiveram essas empresas e pessoas como os principais fornecedores de serviços a
seus gabinetes.
O instrumento denominado Cruza Doadores tem o objetivo de averiguar
quais parlamentares contrataram, durante o mandato, as mesmas empresas das
quais receberam doações durante a campanha anterior. Para a pesquisa, foram
consideradas quantias doadas durante a campanha de 2014 para deputado
federal e senador. As contratações dizem respeito a valores efetivamente pagos
durante os anos de mandato, após a posse dos parlamentares.
Professora de direito eleitoral e procuradora da República, Silvana
Batini destacou que, embora não seja irregular, a conduta pode causar
desconfianças no critério de contratação dos fornecedores. “O rastreamento
direto disso hoje [com o fim do financiamento empresarial] está muito
mais difícil. Então, por esse aspecto, se houver esses eventuais conflitos de
interesses entre doadores e beneficiários, eles vão ficar mais difíceis de ser
rastreados. Essa é a desvantagem”, disse, lembrando que a doação de empresas
foi proibida a partir das eleições de 2016.
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Senador Acir Gurgac - Marcelo Camargo |
O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) é o primeiro da lista. Ele recebeu R$
10.834 do advogado Gilberto Piselo do Nascimento, que já era fornecedor do
parlamentar desde as eleições de 2010. Ao todo, segundo a plataforma, Gilberto
Piselo, que em 2014 foi eleito como suplente de Gurgacz, recebeu R$ 392.953
pelo aluguel de uma sala comercial em Ji-Paraná, segunda maior cidade
de Rondônia.
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Deputado Weliton Prado - Valter Campanato |
Já o deputado Weliton Prado (PROS-MG) contratou a Sempre
Editora após ter recebido doações da empresa. Nesse caso, porém, o
financiamento para a campanha supera os valores que a editora recebeu pelas
relações comerciais com o gabinete do parlamentar. A doação foi de R$ 416.212,
e o contrato resultou em um pagamento total de R$ 223.850 até agora. Baseada em
Minas Gerais, a editora também foi fornecedora de outros dez parlamentares do
estado.
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Deputado João Arruda - Gustavo Lima |
Em terceiro lugar, vem o deputado João Arruda
(MDB-PR). Durante a campanha, a empresa Cotrans Locação de Veículos
LTDA doou para ele, em 2014, R$ 15.188. Depois, a empresa de locação recebeu do
deputado R$ 102.200, em uma conta que leva em consideração os pagamentos
mensais desde o período da posse.
O senador Acir Gurgacz disse que os pagamentos ao
seu suplente se referem ao aluguel de seu escritório político em Ji-Paraná.
Segundo a assessoria do senador, o valor mensal era de R$ 5 mil até o ano
passado, quando o preço foi reajustado, o que é “compatível e até inferior ao
preço de mercado”. Já a doação foi feita em valor estimado,
referente aos serviços de Gilberto Piselo do Nascimento como advogado, que
assinou a prestação de contas da campanha do parlamentar em 2014.
“Todas essas negociações e a prestação do serviço
na campanha eleitoral foram realizadas de forma legal e transparente”, informou
o senador. À Agência Brasil, o suplente de Gurgacz, Gilberto
Piselo, disse que o imóvel tem dois andares, salas e auditório e
que os valores do aluguel ficaram congelados durante cinco anos. Segundo ele, a
suplência não tem relação com o aluguel da sala comercial.
“É óbvio que [essa doação] está figurando no topo
da lista do ranking porque eu fiz doação em um valor
estimado de R$ 10 mil, e como recebo aluguel, é óbvio que ia dar [que recebi
mais do que doei]. Um fato não tem nenhuma correlação com o outro. Nem fiz a
doação esperando receber qualquer barganha, nem aluguei o prédio porque fiz
alguma doação. Se este ano eu não doar nenhum centavo em valores estimados, por
exemplo, o meu nome vai estar fora desse ranking”, afirmou.
A assessoria do deputado Weliton Prado não
respondeu aos questionamentos até o fechamento da reportagem. Contratada por
ele e outros parlamentares mineiros, a empresa Sempre Editora não retornou às
ligações da Agência Brasil.
Com informação Agência Brasil Notícias